26 de julho de 2025

Professor Nery: Fim de Ano na Igreja

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Uma das coisas que o apóstolo Paulo mais enfatizou foi que o fiel nunca deveria se esquecer da sua igreja, ou seja, lugar de crente é na igreja; na comunidade cristã. Então, no último dia do ano, Zeca se arrumou – para o Senhor, o melhor! – e foi enterrar o ano velho na sua igreja. Ele ama verdadeiramente a sua igreja. Ele a viu nascer. Carregou tijolos nas costas. Contribuiu muito mais do que o dízimo e as ofertas e a viu crescer.
 
A intenção de Zeca era cantar. No trajeto, belas letras de hinos passavam pela sua cabeça: "… o dia em que voltar assim será. E ainda o mais notável é que por mim morreu. Oh, que belos hinos cantam lá no céu. Jesus é meu amigo, meu guia, meu senhor!". A expectativa era grande. Zeca ia lavar a alma resumindo em cânticos todo o seu agradecimento a Deus pelo ano que passou.
 
Uma vez na igreja, bem sentadinho no banco, Zeca não conseguiu cantar. A bem da verdade, cantava. Mas simplesmente não conseguia ouvir a sua voz. Quatro meninas de voz forte, bem entoadas, dedicação inatacável, paramentadas com as vestes novas do último dia do ano velho, cantavam, lá na frente, em cima de quatro microfones potentes, notas que invadiam os ouvidos de Zeca. Vale registrar que os cantos, agora, saem em estilo barroco; mesmo rococó. Eles vêm banhadaos de rodeios e timbres vocais. Como reforço, com todos os decibéis a que [não] tem direito, a bateria ajudava a abafar a voz e o entusiasmo do nosso personagem. Zeca simplesmente, cabisbaixo, se calou e teve que se conformar com o canto vicário compulsório.
 
Calado, resignado e abatido, o nosso irmão de fé esperou pela oração. A coisa melhorou. Agora, ele podia ouvir a voz do irmão mais experiente em intercessão por todos a Deus. Zeca poderia, enfim, agradecer e louvar ao Senhor. Poderia fazer os seus pedidos em comunhão com os amados irmãos e com Deus (ele se lembrou que nós não recebemos mais porque não pedimos, ou não sabemos como pedir). A oração veio, para nem tanto entusiasmar o nosso Zeca, pejada de pedidos de saúde, emprego, socorro nos concursos para os filhos e até para o carro novo ("Para o servo do Altíssimo, o melhor!", costuma-se ouvir).
 
A paz e o enchimento que Zeca procurava não vinham. As palavras que lhe chegavam aos ouvidos causavam mais ânsia do que paz. "Mas que droga", arriscava Zeca pensar, "que tipo de crente sou eu?" Ele se pensava coisa melhor, mas a carga dos seus pecados, colocados em holofote,  se lhe amontoava nos ombros.
 
Sem cantar, sem ter feito sua oração em espírito ascendente a Deus, sem o conforto merecido dos justos, Zeca foi convidado a contribuir. Muitas coisas precisam ser feitas na igreja e Zeca foi instado a apertar o orçamento doméstico para contribuir mais. Lá para trás,  Zeca, de novo o nosso Zeca, tinha sido educado a ser dizimista e ofertista em culto racional a Deus. Ele prefere, assim educado, contribuir com dedicação sem coersão.
 
Final da história: já no dia primeiro de janeiro do ano novo, que esperava iniciar cheio de vida, esperança e vigor, de cabeça baixa volta o nosso herói para casa. Dormiu e sonhou. Sonhou sonhos de uma igreja focada na pregação do evangelho,  no louvor e na paz; na comunhão constante com o Senhor…

 
Francisco Nery Junior

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