Ontem, no fim da noite, liguei a TV e vi mais uma reportagem sobre a triste realidade das chuvas que tem caído sobre parte do Brasil. Muitas pessoas vitimadas perderam tudo. Vendo as penosas cenas, a expressão PERDER TUDO não me saiu da cabeça. Ficou passeando por ela até o sono me vencer.
Longe de mim achar que o que é material, conseguido com esforço, não tem importância. O que me intriga é o uso da palavra TUDO. Quase sempre a usamos para nos referir a objetos móveis. E, como se nota nesse tipo de tragédia, até casas, que chamamos de imóveis, não resistem sempre. Há quem se sacrifique pra comprar algo, mesmo não sendo aparentemente útil. Mas para a pessoa é, pois lhe dá algum significado social e a impressão de que o sacrifício tem valido a pena. Somos uma espécie cada dia mais apegada às coisas. Isso, tristemente, nos dá uma frágil noção de que somos participantes ativos deste mundo.
Afinal, quando realmente perdemos tudo? O que é o nosso tudo?
Se a gente começar observar o comportamento de tantos, será fácil perceber o que é “o tudo” deles. Claro que uma circunstância não é suficiente para avaliar, mas quase ninguém se acanha em deixar claro o que realmente acha vital. Revelamos muito quando não fingimos. Saber o que as pessoas valorizam é simples: observem o que elas dizem em momentos de lazer, de pouco compromisso com as aparências. A verdade é que continuamos colocando nossa alegria nas coisas que temos materialmente. Não que não devemos tê-las. O que não devemos é nos medir por uma dúzia de objetos. Pois, como todo mundo deveria saber, os infortúnios da vida vão se apresentar na sua fúria e inevitabilidade. E os objetos, diante disso, farão pouco por nós.
Se as coisas são mais relevantes que sentimento, respeito, desenvolvimento humano, não estamos falando de valor, estamos falando de preço. As pessoas hoje conhecem o preço de tudo e o valor de nada, disse Oscar Wilde, um grande escritor irlandês.
Se continuarmos colocando nossos esforços apenas no desejo de ter mais objetos, quando as nossas tragédias chegarem, pois de um jeito ou de outro elas chegarão, perderemos tudo. Porque, no fundo, não tínhamos nada.
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