Eu e os meus amigos, quando éramos bem pequenos, tínhamos o hábito de usar uma expressão que significava derrota. Na verdade, era uma palavra. Dizíamos: PENICO. Quando a brincadeira era de luta e um de nós estava prestes a perder, já com o nosso oponente nos esfregando a cara na grama ou no chão de terra, saia da nossa boca, espremida, a palavra que indicava que tínhamos perdido. E quem estava vencendo exigia: PEÇA PENICO.
Que fique claro: não tinha nada a ver com desistência, apenas sabíamos que naquele momento a coisa não dava pra nós. No dia seguinte podia ser diferente. E às vezes era. Mesmo no meu caso, que sempre fui franzino e pedia mais penico do que os outros.
Pena que agora, na vida adulta, eu não tenha uma palavra que me poupe da confusão, da dor e da derrota. Uma palavra que aliviasse tudo apenas por ser pronunciada. Gosto de pensar que existe uma palavra assim, que nos socorra quando a fraqueza chegar. Uma palavra que não elimina a dureza das horas, mas nos conforte por saber que nela podemos nos encostar, quando as forças diminuírem. E que pronunciá-la nos livrasse, pelo menos um pouco, da exigência de sempre acertar.
Tive uma infância rica. Dura de grana e cheia de alegria. Muito do que sou devo a ela. E, embora tê-la comigo ajude, tantas e outras vezes ainda vou me sentir perdido diante das armadilhas do mundo. E, como é do seu feitio, ele vai continuar me esfregando na cara que minha pele também precisa admitir fraqueza.
Não sei se ainda funciona… Não custa nada tentar: PENICO, PENICO e PENICO.
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