Dia 10 de Setembro de 2007. Na cidade de Paulo Afonso, na Bahia, um garoto de 17 anos é assaltado e baleado na região cervical. A bala fica alojada entre os nervos conhecidos como C4 e C5 e Romério da Silva Camilo fica sem movimentos nos membros inferiores e superiores. Após cirurgia, considerada de grande risco, pois a possibilidade do garoto ficar tetraplégico era alta, devido ao traumatismo raquimedular, Camilo permaneceu durante 18 dias internado. Quando saiu, não estava tetraplégico, mas sim com uma sequela: a tetraparesia.
Janeiro de 2012. Por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o jovem, aos 21 anos, é aprovado no vestibular de Engenharia Elétrica do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Mesmo com todas as limitações causadas pela tetraparesia, que comprometem sua força e os movimentos dos membros abaixo da área de lesão.
"Desde cedo sempre fui focado e esforçado. Desde minha infância tinha o sonho de me tornar professor, assim como meu irmão. Com o tempo mudei de pensamento e, no começo de 2007, iniciei o Ensino Médio junto ao curso de eletrotécnica", conta Camilo. Considerado um dos melhores alunos do curso, teve que abandoná-lo após o ocorrido em setembro daquele ano.
Temporariamente. Logo após sair do hospital, ele começou a fisioterapia. "Fiquei os primeiros 17 dias deitado, sem força nenhuma, quando em um pequeno esforço consegui movimentar um pouco a perna esquerda. Foi uma grande alegria", diz. "Depois de mais alguns dias, consegui movimentar o dedo indicador do braço direito", completa. Era só o começo.
O objetivo era voltar aos estudos. Ainda em 2007, conseguiu ter alta e ir para casa, utilizando um colar cervical. Em janeiro de 2008, deu seus primeiros passos pós-acidente. Mas ele queria voltar a escrever. "Lembro-me dos esforços para reaprender a escrita básica. Foram cerca de cinco meses até conseguir. Com caligrafia boa, só depois de 10 meses", explica. Pronto, em 2009, voltou ao Ensino Médio.
A tetraparesia ainda prevalece no corpo de Camilo, que sofre com as variações de força e amplitude de movimentos no braço direito (mesmo assim, pratica natação). Lutando contra a situação, se formou em 2011 e resolveu que prestaria diversos vestibulares. Foi aprovado em quatro. Além do curso que fará na IFBA, passou em Direito na Faculdade Sete de Setembro (Fasete), em Paulo Afonso; em Matemática Aplicada na Universidade Federal de Sergipe (UFS); e em Matemática na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
"São tantas pessoas que sofrem com a falta de acessibilidade e falta de equipamentos adequados para portadores de necessidades especiais, que preciso ter isso na mente e aliar isso com tudo o que aprendi estudando. Por isso escolhi Engenharia Elétrica", conta. "Sigo com minha cabeça erguida e decidido a ajudar no que for possível a todos, dentro da minha área", diz o jovem.
Toda história de superação traz uma mensagem. E qual é a que Camilo pretende passar? "Que força de vontade, fé, dedicação e perseverança são a receita para o sucesso de qualquer indivíduo. Não podemos desistir daquilo que queremos, temos que lutar até alcançar os nossos objetivos", fala. Desde o assalto que mudou sua vida em 2007, se passaram quatro anos. O que poderia ser o fim apenas se mostrou o caminho para que, daqui cinco anos, Camilo se forme engenheiro. E não será a tetraparesia que atrapalhará.
O internauta Romério da Silva Camilo, de Paulo Afonso (BA), participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.