E vivam os voos
Comprei as passagens de fim de ano pela Azul para Salvador na Francistur. Estou profundamente feliz. Ficar nove horas purgando todo e qualquer pecado dentro de um ônibus que se arrasta para Salvador estrada afora é, definitivamente, um terror. Podemos ir de carro. Mas isto é outra conversa. E, de novo, a viagem daqui pra lá de ônibus nos deixa esgotados; aperreados e de mau humor. A propósito, algum leitor esclarecido poderia explicar por que, quando a estrada era de barro até Ribeira do Pombal, a viagem era feita, muitas vezes, em pouco mais de sete horas? Agora são nove. Nove religiosamente cravadas no relógio.
Agora temos o avião. O mundo já o tem por cem anos. Eu me refiro àquele avião de Santos Dumont, que foi o primeiro a levantar voo sozinho com uma máquina mais pesada que o ar. Os americanos dizem que foram eles. Levantaram com o auxílio de uma catapulta, palavra feia, mas que foi o que jogou o avião deles para cima. Jogar o mais pesado que o ar para cima, o homem sempre jogou com o auxílio dos braços. O braço era a catapulta usada pelo homem primitivo para jogar pedras.
Temos avião e temos esperança que pegue como visgo. Tivemos, por muitos anos, voos regulares da Varig para Salvador e Recife. Tínhamos menos da metade da população atual, e tínhamos voos. Eles não serão só nossos, mas da região. Há poucos anos, quando tivemos um ensaio da volta dos voos, eu verificava, ao desembarcar, um ou dois passageiros de Paulo Afonso; do centro urbano. A maioria, eu via se espraiar para a circunvizinhança.
A tirar pela qualidade do lixo recolhido na ilha – em nível de igualdade ao lixo da Europa mais desenvolvida -, temos uma economia pujante. Isto quer dizer que as pessoas, desacostumadas ainda que estavam a pegar avião, vão passar a se deslocar para Salvador e, de lá, para outros locais, pelo ar. O martírio se acabará. O atraso aviltante ficará para trás.
Temos avião, como temos tido – somos reconhecidos -muitos outros avanços. Que venha avião para Recife, para São Paulo, para onde quer que for. Trabalhamos e movemos a economia. Somos nós que a fazemos. O governo só normatiza – e, às vezes, atrapalha e inibe.
Quanto à nossa parte – e aqui para nós – vamos viajar um pouco mais de avião. Vamos dar um jeitinho, arranjar um pouco de tempo e uns trocados, e viajar. Esta pode ser a nossa parte e o nosso esforço para manter a conquista. Viajemos de avião.
Francisco Nery Júnior