Segundo o humorista e compositor Juca Chaves, o brasileiro não gosta de música; gosta de som. Um pouco mais além, poderíamos dizer que ele gosta mesmo é de zoada. Uma das coisas que me metem inveja é a capacidade que a maioria das pessoas tem de aturar zoada, muitas vezes em excesso, inclusive nas nossas igrejas, exceção feita à Igreja Católica e à Adventista. O leitor teria coragem – na verdade irresponsabilidade – de levar o seu filho recém-nascido, de poucos meses, a um dos nossos templos? Arriscaria arrebentar, logo de saída, a capacidade auditiva de quem você mais ama?
Causa espécie ver pessoas pias e dedicadas, cheias de valor e cortesia, pessoas a quem amamos por prazer e por obrigação, entregarem-se à insanidade do som – ou zoada – sem fronteiras. Essa capacidade é uma das coisas que invejo na vida. O som altíssimo tira, logo de entrada, a minha capacidade de interação. Os tiros diretos nos tímpanos esboroam qualquer capacidade de manter o humor; a atenção, a pró-atividade… Se vivemos em uma democracia, se há respeito pela livre expressão, se há esforço para a convivência sadia, aí está uma opinião.
Observe agora o leitor a oportunidade do texto do Professor Ivus Leal em seu livro Pelas Estradas da Vida. Ivus foi de uma precisão e de uma felicidade sem par. Leia, medite, remoa do verbo remoer, conclua, opine; talvez discorde. É pra isso que conversamos.
“Conveniou-se que todo ambiente de lazer tem que ter um ‘estridente som’ a fim de que as pessoas sejam atraídas e sintam-se ‘festivas’. Ora, se vamos ao lazer em sociedade é para atender a necessidade intrínseca do ser humano para ‘encontrar-se’, e não apenas ‘olhar-se’, pois, com o barulho das músicas ditas eletrônicas, elevado ao máximo de decibéis que o ouvido suporta, só podemos ‘falar’ por mímicas. Teremos de aprender o alfabeto dos surdos-mudos. Heim?”
Vá meditando sobre as palavras de um sábio professor se, no momento, não houver um vizinho a ouvir a sua [dele] música predileta a todos os decibéis.
Francisco Nery Júnior
