Peço uma licença ao amigo leitor acostumado às notícias locais, e já que estamos no carnaval e Paulo Afonso é o túmulo da festa – coisa com a qual não me conformo; tudo bem que o governo deve priorizar o orçamento com as necessidades do povo, mas o mínimo que fosse não atrapalharia a gestão, além do que nos devolveria a brincadeira de rua, ainda que fosse por dois dias … Bem sigamos.

No primeiro dia do desfile das Escolas de Samba do grupo especial do Rio de Janeiro, na Marquês de Sapucaí, havia duas grandes expectativas: a presença do prefeito, Marcelo Crivela (que não veio, e isto não acontece desde 1984), e a homenagem da Grande Rio, à cantora Ivete Sangalo.

Ivete arrasou!
Se der Ivete – ou melhor a Grande Rio, deve-se ficar satisfeito, porque foi digno, lindo e trouxe em suas memórias de menina uma Juazeiro que não existe mais. Os barquinhos do carro abre-alas, ainda são possíveis de encontrar na orla de Juazeiro-BA, mas tudo em torno é melancólico no Angari – bairro ribeirinho do centro da cidade banhada pelo Velho Chico.

Foi um grande show a presença de Ivete ontem, depois daquele momento triste em que mais de 20 pessoas foram espremidas pelo carro alegórico da Paraíso da Tuiuti (entre elas jornalistas que estavam trabalhando, a gente sempre tentando pegar a melhor foto, a exclusiva!) Com a chegada da diva, veio a máxima: o show tem que continuar.

A Grande Rio, contudo, era apenas a 2ª da noite, e só no primeiro dia, já tem dois concorrentes difíceis para a ‘invocada’ de Caxias: Salgueiro e Beija-Flor, a primeira tradicional conhecida como ‘Academia do Samba’ da zona norte do Rio, ainda brincou com a literatura clássica de Dante Alighieri e sua Divina Comédia, há de se registrar que em se tratando de fantasias, não houve concorrência para o Salgueiro no desfile de domingo.
Tem a Beija-Flor no meio do caminho

Se a Beija-Flor fosse um time, seria o Barcelona de 2012 (aquele que muitos consideram o time do século), todo mundo sabe como joga, às vezes não tem emoção, bola de pé em pé, dois toques, mas quem conseguia ganhar deles?, eis o caso.

O puxador é o mesmo há quarenta anos: Neguinho da Beija-Flor ‘Olha a Beija-Flor aí gente!’ e ao ouvi-lo a concorrência se pergunta: e agora?, pois bem, depois de muito anos derramando luxo na avenida – motivo de muitas críticas e até, dizem, de associação a coisas não muito bonitas, de onde vinha tanto dinheiro?, a azul e branco de Nilópolis, é, novamente a escola a ser superada.
Melodia inspirada em Iracema, de José de Alencar, novamente a literatura, a escola de Zico que já é craque sem samba, foi um espetáculo de canto e harmonia. Muita palha e como dizem, a comunidade faz a diferença.
Mas a cantora baiana, que celebra 24 anos de carreira, mereceu a homenagem, ganhou a passarela do samba, não chegou como estrela, mas brilhou e deu ao samba a energia precisa.
Ivete Sangalo levantou poeira!