E quem pagaria o preço de tanta falta de lógica – para não dizer esculhambação – no Brasil iniciante do século XXI? O nosso Titanic bateu no fundo do poço. Não é o que estamos a profetizar nesta coluna por mais de dez anos? Ainda bem que existe fundo e os nossos inimigos jamais se regozijarão com a nossa desgraça total. Ser profeta e comediante no Brasil é coisa fácil.

Pois a crise econômica, trazendo a reboque a crise política – lama, descrença, desânimo, cinismo inacreditável, fome, miséria e desemprego – cobra de nós, míseros cidadãos mortais, “leigos” para os doutos cínicos de plantão, o preço. Os maiores responsáveis passam temporadas nos imóveis de Paris, nos sítios, e nos apartamentos das grandes cidades.
De nós, de novo, começam a arrancar nossos míseros reais. Sem reais para o erário, não há solução para a crise. Em escala tupiniquim, a Prefeitura Municipal cobra [de nós] o terreno das casas do BNH que ocupamos há cerca de cinquenta anos. Em Salvador, após décadas de posse, a União exige o pagamento de foro nos terrenos da Península de Itapagipe, bem perto da Igreja do Bomfim. O funcionário do Estado da Bahia completa seu tempo de serviço regulamentar e é obrigado a trabalhar até que a boa vontade de um burocrata conclua o seu processo.
Antes de subirmos um pouco para o INSS, vamos dizer que o saque na Petrobrás (a Petrobrás, com acento no a e tudo, foi impiedosamente saqueada), impediu que os concursados da lista de espera do último concurso fossem convocados.
Já no INSS, quem contribuiu por mais da metade do tempo de serviço com a alíquota do teto tem que se contentar com pouco mais de um salário mínimo de aposentadoria. No famigerado governo de Fernando Henrique, filho de general e morador de Paris, foi decretado que a vida contributiva do segurado de 1994 para trás deve ser desprezada. As contribuições após a aposentadoria, para quem continua trabalhando, vão para as calendas; não melhoram os saques mensais. O senhor FHC salvou o sistema em cima de cidadãos nesta categoria.
Na Eletrobrás (também com acento, para reforçar), chegou o PAE, programa de incentivo à demissão voluntária. Voluntária até onde não interfere a angústia e o dilema de pioneiros dedicados que contribuíram na montagem de todo o sistema elétrico do país. Somos pioneiros em Paulo Afonso e região. Para cá viemos quando pouca gente se dispunha a vir. A segurança era relativa, as comunicações eram primárias, o lazer artificial. Em suma, era, mesmo, dedicação missionária.
Pelo exposto, haveria contra-argumento para o fato de a bomba ter estourado nas nossas mãos, nós que antevíamos a nossa desgraça e a nossa desdita lá para trás com olhos de lince que os tolos e ingênuos viam como olhos de desmancha-prazeres?
Pois é, leitor. Estamos a pagar o preço da hipocrisia, do cinismo e da roubalheira da maioria dos nossos políticos. Assim sabíamos enquanto a maioria embriagada cantava, dançava e rolava como a cigarra de La Fontaine. Vamos pagar ainda mais!
Francisco Nery Júnior
P.S. O cronista, como um, é vítima de tudo que vai acima.
Faltou o processo de padre de delmiro, requerendo terras, poderes , deveres nada. Viva a nossa república socialista pura, daquelas que o povo pede e o poder afaga
Muito bem Nery. Mas, eu lembro que vc votou. E votou neles. Arrependido?
kkkkk.
Essa análise é perfeita e propicia a reflexão sobre nós mesmos em relação ao Estado, à sociedade.
Parabéns, Nery!