Inglês serve muito bem às músicas; sonoridade adequada. Mas o portugûes é doce. O nosso português [é] mais doce que o de Portugal. Meu bisavô português, como descrito para mim pelo meu pai, parecia empertigado. Eu o imaginava falando entre os dentes, batendo os erres, atropelando sílabas, da mesma forma que os portugueses imigrantes da minha infância em Salvador. Pena – acho que pena mesmo – que a turma, em nome da comunicação (indiscutivelmente o mais importante do processo), esteja misturando as pessoas pronominais tu e você e assimilando os modismos propagados pelos meios de comunicação. Para longe o tempo quando advogados, pastores e padres nos davam de bandeja um português escorreito. Ensinavam português, e ensinavam bem. O pastor Hercílio Arandas, da Primeira Igreja Batista do Brasil, pregava na segunda pessoa do plural. Era um banquete!
Poderíamos acomodar (para não dizer destruir ou derrubar) algumas afirmações dadas como certas: 1) "O Brasil é um país monolinguista." As pessoas se esquecem que existem mais de cem línguas e dialetos indígenas no país, falados por uma populaçao já se aproximando das quinhentas mil almas. 2) "Português é complicado." Quem estuda inglês a fundo e se familiariza com os meandros do francês, para não citar outras línguas, não faz esta afirmação. 3) "Latim é muito difícil porque usa declinações." Para se referir a você mesmo, você usa eu, me, mim e migo (comigo). Isto é declinação. Eu é o caso do sujeito, me do objeto direto, mim do indireto e migo do adjunto. O gênero neutro também assusta. Em português, temos este, esta e isto; masculino, feminino e neutro. Em inglês, o it é o neutro; he, she, it.
Podemos aperfeiçoar: 1) "Há três décadas atrás." Ou há três décadas ou três décadas atrás. 2) "Eu não sei nada." O ideal seria dizermos eu sei nada ou eu não sei tudo. 3) "Evidentemente que…" Ou evidente que (Evidente que o Brasil tem futuro.) ou evidentemente (Evidentimente o Brasil tem futuro.). 4) "Eu vou estar trabalhando…" Fica melhor dizer eu vou trabalhar ou eu trabalharei.
Para finalizar (você deve estar cansado, nem sempre a gente aprende brincando), algumas considerações sobre falar e escrever. O leitor sabe que falar e escrever bem pressupõe leitura. É como o vômito: alguém [só] vomitou porque comeu. Ler (começando pelos assuntos e temas de que gostamos); ouvir (os meios de comunicação nos presenteiam com conversas de pessoas altamente qualificadas); frequentar as bibliotecas (é fundamental se viciar em livros, pegar nas páginas, sentir o cheiro do papel); mancomunar-se com quem lê (parte do meu gosto pela leitura – nem tanto quanto desejaria – deve-se ao fato de sempre ter visto o meu pai com um livro nas mãos). Nós, os professores, levamos muito pouco os nossos alunos para as bibliotecas.
Alguns cuidados devem ser tomados em relação ao discurso, à oração, ao falar: 1) A gente fala para quem quer ouvir. Se o grupo ou auditório demonstra cansaço, o orador deve abreviar o seu discurso. Lá da frente, se ele percebe que as pessoas olham para o relógio, viram-se constantemente para trás, se coçam, saem para beber água ou ir ao sanitário, ele deve concluir que é melhor parar. A turma pode estar cansada após um dia de trabalho duro, o assunto pode não ser atraente ou pertinente, ele pode estar simplesmente se repetindo sem saber parar, e assim sucessivamente. Sempre manter em mente que Cristo, o mestre dos mestres, falava para quem tinha ouvidos para ouvir. 2) Fazer o discurso em doses medidas e calculadas; em conteúdo e em ênfase. Introduzir a temática paulatinamente, falando baixo e pausadamente. Orar, discursar, não é gritar. O "grito" deve ser reservado para a hora certa; serve para enfatizar um ponto. 3) As pausas ou paradinhas dentro do discurso são fundamentais. Podem servir para o ouvinte digerir melhor o assunto. Nunca se esquecer que o silêncio comunica. Rui Barbosa afirmou haver ausências fecundas e produtivas em contraponto às presenças nocivas e deletérias.
Pronto, e pronto. Ninguém tem o direito de cansar leitores tão dedicados quanto você que a�”MARGINÉ$�� ��
Inglês serve muito bem às músicas; sonoridade adequada. Mas o portugûes é doce. O nosso português [é] mais doce que o de Portugal. Meu bisavô português, como descrito para mim pelo meu pai, parecia empertigado. Eu o imaginava falando entre os dentes, batendo os erres, atropelando sílabas, da mesma forma que os portugueses imigrantes da minha infância em Salvador. Pena – acho que pena mesmo – que a turma, em nome da comunicação (indiscutivelmente o mais importante do processo), esteja misturando as pessoas pronominais tu e você e assimilando os modismos propagados pelos meios de comunicação. Para longe o tempo quando advogados, pastores e padres nos davam