O Profeta
Por Epidauro Pamplona
O drama de 155 minutos do diretor, Jacques Audiard, engloba o jovem árabe, Malik El Djebena, condenado a seis anos em regime fechado por confronto com a polícia, e os presos mulçumanos e a máfia ítalo/francesa, chefiada na cadeia pelo veterano César Luciane que dita as “normas” na Penitenciária, e influi sobremaneira na administração e nas decisões do Judiciário para com os condenados, em uma gritante evidência de inversão de valores e de corrupção ativa e passiva que sobrepujam o Direito, maculam o Estado e banalizam a má fé na Justiça, na terra dos “gauleses”. A “odisséia” do condenado recluso sintetiza os malogros do “mundo cão”, a cadeia, onde a lei do mais forte suscita, erga omnes, a anacrônica máxima dos antigos ágrafos: sangue por sangue, olho por olho, dente por dente…
Logo na triagem, o princípio da dignidade da pessoa humana é defenestrado quando o preso é obrigado a mostrar suas partes íntimas para um preposto do Estado. Sua condição racial no cotidiano prisional é motivo de retaliação, desdém e servilismo. Para não morrer, e por falar árabe, o neófito encarcerado é obrigado a fazer amizade, trair e matar, impunemente, um “chefe” mulçumano, desafeto dos mafiosos racistas que não deixam de molestá-lo, discriminá-lo, surrá-lo e escravizá-lo, à proporção que a convivência carcerária, o trabalho e a escola o “ressocializam” para o crime, sob o interesse e a égide da máfia, no caso concreto explícito, conforme verificar-se-á, mais tarde, nas cenas de violência premeditadas do enredo pragmático e realista da fita cinematográfica questionada.
Malik, após cumprir a metade da pena e ganhar a confiança dos “donos” da cadeia, faz um acordo com o “poderoso chefão”, César, que, com anuência do venal promotor de Justiça, consegue transformar sua reclusão em regime semi aberto, para utilizá-lo em seus planos criminosos extramuros com outros apenados do mesmo sistema penal. Para o jovem custodiado, seu aprendizado onde o sol “nasce quadrado”, concomitantemente, proveitoso e pernicioso, dá-lhe um “new look” pejorativo e periclitante que o credencia para o mundo do crime, onde, sob condicional, pratica homicídios, roubos e tráficos que lhes dá poder, mordomia e até sexo com mulheres na cadeia, à noite. A autofagia das gangues organizadas que afeta a hegemonia carcerária do mafioso Luciane, refreia os concursos de crimes praticados nas ações do jovem árabe que, após sentença cumprida, ganha a liberdade para uma convivência, presumidamente familiar, após os longos “Dia de Cão” sob custódia judicial, em detrimento da sociedade que absorve a violência e paga seus impostos, também, para a substância e manutenção carcerária e para uma suposta ressocialização de sua população marginal que, inversamente, capacita-se nas grades das “escolas do crime”, como se vê na obra cinéfila focada do renomado diretor, ora comentada, imparcialmente.
A mostra contemporânea do cinema francês do supra citado diretor, o Profeta, é o reflexo atual da situação dos presídios brasileiros, oriunda do “ovo da serpente” da acefalia da Ditadura Militar, que, nos “anos de chumbo”, misturou presos políticos e até advogados com facínoras comuns, fomentando intelectualmente o crime organizado arquitetado e comandado dos intramuros penitenciários, conforme visto nas ações dos famigerados traficantes então encarcerados, Fernandinho Beira Mar, Marcola, e outros bandidos que barbarizaram e assustaram a indefesa comunidade daO Profeta
Por Epidauro Pamplona
O drama de 155 minutos do diretor, Jacques Audiard, engloba o jovem árabe, Malik El Djebena, condenado a seis anos em regime fechado por confronto com a polícia, e os presos mulçumanos e a máfia ítalo/francesa, chefiada na cadeia pelo veterano César Luciane que dita as “normas” na Penitenciária, e influi sobremaneira na administração e nas decisões do Judiciário para com os condenados, em uma gritante evidência de inversão de valores e de corrupção ativa e passiva que sobrepujam o Direito, maculam o Estado e banalizam a má fé na Justiça, na terra dos “gauleses”. A “odisséia” do condenado recluso sintetiza os malogros do “mundo cão”, a cadeia, onde a lei do mais forte suscita, erga omnes, a anacrônica máxima dos antigos ágrafos: sangue por sangue, olho por olho, dente por dente…