27 de julho de 2025

Ajudando a chorar: por Pedro Camilo (professor da Fasete e Uneb)

Por

Ajudando a chorar

 

Por Pedro Camilo* [email protected]

 

Foi o amigo Lindomar Coutinho quem me contou a seguinte história:

 

Elisângela saiu de casa, no horário habitual, para buscar sua filha Raquel na escola. Era uma linda garota de seis anos, doce e amorosa, que se convertera na luz daquele lar.

Parando o carro em frente ao prédio, como sempre fazia, a mãe buzinou cinco vezes, como era de costume. Aquilo era um código entre ambas, e a filha, tão logo identificava os sons, saía, festiva, para encontrar os beijos maternos e retornar para o ninho doméstico.

No entanto, naquele dia, Raquel não saiu. Elisângela buzinou novamente, mas a menina não saía. Avistando uma funcionária na porta da escola, pediu-lhe o favor de procurar a filha, no que foi prontamente atendida.

Passados alguns minutos, a pequenina era trazida, guiada pela mão esquerda, enquanto a direita era utilizada para enxugar grossas lágrimas que teimavam em cair de seus olhos.

Chegando ao carro, abraçou-se à mãe e continuou o seu choro. Elisângela, acolhendo a filha e com carinho, perguntou se ela tinha caído, se machucado; queria, enfim, saber o que estava acontecendo.

Raquel, com os olhos ainda marejados, respondeu:

– Sabe, mamãe, a Joaninha? Pois é! A boneca dela quebrou. Era a boneca mais querida dela, mamãe!

– Ah, filhinha, foi mesmo?

– Foi, mamãe, foi. Aí, eu demorei tanto assim porque estava lá, ajudando ela.

Ouvindo aquelas palavras, Elisângela perguntou:

– Quer dizer que você estava ajudando sua amiguinha a concertar a boneca?

Registrando a pergunta e pensando por um momento, a menina respondeu:

– Não, maezinha. A boneca quebrou de vez, não tem jeito.

E, num jeito de olhar bem característico, fitou a mãe e completou:

– Eu estava ajudando ela a chorar…

 

* * *

 

Não foi à toa que Jesus afirmou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar a plenitude.

A pureza dos sentimentos e das iniciativas desses “pedacinhos de gente” nos revelam lições que os livros e os discursos mais eloquentes nem sempre conseguem consolidar em nossos corações.

Ao ver um irmão em dor, em sofrimento, costumamos exortá-lo a resistir, a que tenha resignação, a compreender que tudo aquilo possui uma causa e que não há injustiça nas Leis Divinas.

Contudo, em algumas circunstâncias, essas pessoas que nos procuram não necessitam de sermões longos e exaustivos. Carecem, apenas, de que tenhamos suficiente sensibilidade para, sintonizados com suas dores, podermos, simplesmente, “ajudar a chorar”.

 

 

*Pedro Camilo é advogado, professor Auxiliar Efetivo de Direito Penal da UNEB, professor de Direito Penal da FASETE e mestrando pela Universidade Federal da Bahia.

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