A minha mãe era pessimista. Pelo menos era o que dizia o meu pai. Os dois eram um casal antigo, daqueles que, para eles, as turras faziam parte do jogo do amor (meu pai confidenciou, após 54 anos de convivência, que o amor só aumentava com o passar do tempo. Nada de desgaste como ele imaginava quando eram os dois ainda jovens). Pois a minha mãe sempre desconfiava daquilo que lhe batia na porta. Para ela, se fosse bom, teria batido na porta do vizinho.
O novo mercado de Paulo Afonso é coisa de primeiro mundo. Fazer a feira em qualquer dia da semana, em condições de conforto, sem cachorros ao lado, lama no chão e sem carroças a arranhar as pernas não é coisa para qualquer um. Basta sair de Paulo Afonso e verificar o descaso de quem administra algumas cidades vizinhas.
O mercado bateu na nossa porta e mudou a nossa vida. Deu novos ares à cidade. É belo e dá vontade de entrar. Foi custeado com recursos próprios e vai forçar o outro lado a se modernizar. Ninguém quer ficar atrás, e a feira antiga vai ter que se atualizar. Do contrário, nós não vamos mais passar por lá. É uma pena. Ficar sem a oportunidade de conviver com toda aquela gente boa que faz a feira de Paulo Afonso é terrível. Ficar privado da oportunidade de saudar e ser saudado, pior ainda.
Mas… como que para alimentar o nosso pessimismo ou o nosso sentimento tupiniquim, deixaram a parte posterior do mercado à própria sorte; à moda antiga. Nenhum conforto, nenhuma cobertura, nenhuma sensação de higiene em um local chamado de praça de alimentação.
Ainda está em tempo de consertar. Consertar para o nosso conforto, para o conforto de quem precisa se alimentar e para o conforto de quem lá trabalha. Assim como está, o mercado se assemelha a alguém que entrou na loja de marca, comprou o melhor terno, perfumou-se, mas se esqueceu de trocar o calçado. Foi para a festa de sandálias velhas.
Francisco Nery Júnior