– Ele não está saindo por medo ou algo desse tipo; sai porque está cansado!
Essas palavras, proferidas pela ministra do STJ e Corregedora Geral de Justiça, Eliana Calmon, sobre o afastamento do juiz federal Paulo Moreira Lima do caso Cachoeira, suscita reflexões interessantes e inevitáveis.
Inicialmente, vale a pena destacar o papel da respeitada ministra nesse contexto. Embora seu pronunciamento se justifique face ao cargo que exerce, considerando-se que eventuais coações ou incorreções no caso Cachoeira mereceriam, de sua presteza e valentia, uma pronta intervenção, devemos lembrar de que, meses atrás, Eliana envolveu-se em caloroso e desgastante embate com seus colegas de magistratura, na queda de braços sobre a limitação ou não dos podres investigativos do CNJ e que resultou na sua retumbante e aplaudida vitória.
Conquanto o episódio tenha representado, do ponto de vista jurídico, uma vitória da justiça e do sentimento de justiça popular, cujo simbolismo foi plenamente contemplado na difundida ideia de que mesmo os ditos “paladinos da justiça” a ela também devem se submeter, no tocante à política interna do Poder Judiciário, a ministra estava, por assim dizer, “com seu filme queimado”, haja vista que se indispusera com seus colegas e isso, em qualquer lugar, não deixa de gerar tensões e dissabores.
Eliana Calmon, assim, partiu em defesa do cansado juiz federal do caso Cachoeira naturalmente que buscando atender ao seu dever funcional, sim, mas não sem entendê-la como estratégica e necessária, para suavizamento das tensões internas que sua postura combativa sempre desperta, por onde passa.
Nada obstante, não foi sem razão o seu pronunciamento, e devemos abrir bem os ouvidos para entender, nas entrelinhas, o que pretendeu dizer a ministra, ao afirmar que o seu colega, da magistratura federal, estava “cansado”.
Num país como o nosso, em que a onda é a corrupção e em que os corruptos vivem a se banhar na maré mansa da impunidade, nadar contra a correnteza não é nada fácil, muito menos afrontar a cachoeira de interesses escusos e acordos inconfessáveis que marca, em todas as esferas, a atuação dos que têm o monopólio do poder político e econômico.
Ainda quando se é agente da justiça, tendo-se, nas mãos, a balança do bom senso e a espada aguerrida da coragem e da lucidez, torna-se impossível envergar a venda da deusa Têmis e permanecer indiferente, porque há relações e realidades tão acintosas e escandalosas que mesmo os cegos não ignoram!
O juiz federal Paulo Moreira Lima certamente cansou, e com toda razão. No seu esforço pelo bom desempenho dos seus encargos, não receou tomar as medidas necessárias e, de olhos bem abertos, utilizando óculos de mergulho, pés de pato e cilindro de oxigênio, enfrentou as águas revoltas da cachoeira imunda que tinha pela frente e viu, por debaixo do mando aparentemente calmo da superfície, o submundo de sujeiras que o fundo daquelas águas escondia.
E como toda aquela sujeira provinha da cozinha de muita gente grande, cujos esgotos, muito bem canalizados, agora se revelavam e se escancaravam, depois que uma grande e essencial tubulação comum estourou, nosso caro magistrado cansou, e com razão, dos telefonemas incessantes, provindos de gabinetes de governadores, de assessores de prefeitos, de celulares de deputados e senadores, de pedidos de “ex-issos”, “ex-aquilos”, das pressões de juristas de diversos órgãos de atuação, também eles, por certo, com suas vergonhas a esconder. Cansou do cinismo de quem, às claras, se diz defensor dos direitos e garantias públicos e que, por debaixo dos panos, promove o achincalhe da justiça e dos direitos humanos. Cansou das ameaças, explicitas e veladas, cansou de chamar canalhas de doutores. Cansou, enfim. Cansou!!!
Pois bem! Descanse com sua consciência tranquila, excelência. Nós, que estamos aqui, de um outro lado que é o mesmo lado da indignação e da vontade de justiça em que o senhor se encontra, não o condenamos pela sua atitude. Fardos muito pesados devem ser divididos. É nobre reconhecer o limite das próprias forças, como também o é o ato de compartilhar as grandes responsabilidades, cara ministra.
Descanse a consciência, mas não a adormeça, porque nós não adormeceremos a nossa! Cachoeiras, quando muito fortes, são difíceis de enfrentar, mas não são obstáculos intransponíveis. N&oacut�”MARGINI0�� ��
– Ele não está saindo por medo ou algo desse tipo; sai porque está cansado!
Essas palavras, proferidas pela ministra do STJ e Corregedora Geral de Justiça, Eliana Calmon, sobre o afastamento do juiz federal Paulo Moreira Lima do caso Cachoeira, suscita reflexões interessantes e inevitáveis.
Inicialmente, vale a pena destacar o papel da respeitada ministra nesse contexto. Embora seu pronunciamento se justifique face ao cargo que exerce, considerando-se que eventuais coações ou incorreções no caso Cachoeira mereceriam, de sua presteza e valentia, uma pronta intervenção, devemos lembrar de que, meses atrás, Eliana envolveu-se em caloroso e desgastante embate com seus colegas de magistratura, na queda de braços sobre a limitação ou não dos podres investigativos do CNJ e que resultou na sua retumbante e aplaudida vitória.
Conquanto o episódio tenha representado, do ponto de vista jurídico, uma vitória da justiça e do sentimento de justiça popular, cujo simbolismo foi plenamente contemplado na difundida ideia de que mesmo os ditos “paladinos da justiça” a ela também devem se submeter, no tocante à política interna do Poder Judiciário, a ministra estava, por assim dizer, “com seu filme queimado”, haja vista que se indispusera com seus colegas e isso, em qualquer lugar, não deixa de gerar tensões e dissabores.
Eliana Calmon, assim, partiu em defesa do cansado juiz federal do caso Cachoeira naturalmente que buscando atender ao seu dever funcional, sim, mas não sem entendê-la como estratégica e necessária, para suavizamento das tensões internas que sua postura combativa sempre desperta, por onde passa.
Nada obstante, não foi sem razão o seu pronunciamento, e devemos abrir bem os ouvidos para entender, nas entrelinhas, o que pretendeu dizer a ministra, ao afirmar que o seu colega, da magistratura federal, estava “cansado”.
Num país como o nosso, em que a onda é a corrupção e em que os corruptos vivem a se banhar na maré mansa da impunidade, nadar contra a correnteza não é nada fácil, muito menos afrontar a cachoeira de interesses escusos e acordos inconfessáveis que marca, em todas as esferas, a atuaç&atild