Por Franscisco Nery Junior
A gente adoece. O corpo é uma máquina e máquina precisa de manutenção e cuidados. Uma pedrinha pára no canal competente do rim para a bexiga e lá vêm os problemas. Problemas e dor. A dor forte e persistente, mais persistente do que forte, tira o ânimo. Vão-se embora os ideais e vêm à cabeça os princípios. De que valem eles todos sem a saúde? Valem na medida que os outros ficam. Os semelhantes estão em boa forma e o plano precisa continuar. A gente dorme muito, se esquece de tarefas cotidianas que a gente pensa serem a vida e a razão de existir, a gente falta ao trabalho. Bom quando o chefe é um marechal-de-campo, sem muito gosto pela cartilha, tipo General Patton ou General Rommel. Eisenhower ou Hitler, quando queriam fazer diferença, romper barreiras, avançar, chamavam Patton ou chamavam Rommel. Não eram homens "normais". Um falava demais – e causava problemas políticos – e o outro foi forçado a se envenenar sob suspeita de ter participado da tentativa frustrada de matar o ditador fanático.
Nesse clima, a gente passa pela rua e vê os candidatos aos cargos eletivos para os próximos quatro anos. A cidade está enfeitada. Está engalanada e até florida. Fiquemos certos que eles querem ser vistos. Apelam para todos os lados e recursos na esperança que a estratégia escolhida venha a dar certo. Andar de bicicleta, colocar cartazes nas costas, transfigurar-se em bonecos gigantes nada agradáveis de serem vistos, tudo prevê a conquista do voto. Pode ser chatice – principalmente de quem não cosegue se livrar da dor persistente no baixo ventre -, mas essas coisas afastam mais o eleitor consciente do que atraem. O leitor pode contrapor que [isto] tem dado certo para alguns candidatos em eleições passadas. O candidato colocou um alto-falante em cima do carro velho e se elegeu. Outro visitou insistentemente os cidadãos e foi o mais votado. Outro ficava jocosamente tentando ajudar os necessitados na fila e chegou lá. Outros deram muitos tapinhas nas costas, carregaram bebês, molharam-se de urina, conseguiram adiar o pagamento de tributos, conseguiram uma carrada disto daqui, daquilo acolá, e assim sucessivamente. A curiosidade é grande para ver o resultado final da votação.
Enquanto isso, os candidatos se esmeram ainda mais. Apertam a mão da gente numa gentileza nunca vista. Sorriem como se estivessem fazendo propaganda de creme dental. Mas e porém, todavia e contudo, raramente a gente os vê oferecendo uma plataforma de conteúdo. Raramente a defender medidas ou mudanças de rumo que realmente venham fazer diferença para a comunidade. Se cinco mil bicicletas vão e vêm do Tancredo para o Centro todos os dias, não seria de esperar que um punhado de candidatos estivesse prometendo lutar pela ciclovia do Tanccredo Neves? Se você chega no hospital da cidade, durante a madrugada, morrendo de dor e não consegue que o submetam a uma ultrasonografia (dão-lhe um paliativo e você tem que partir para uma procura insana nas clínicas após o sol se levantar – mesmo pagando), não seria de esperar que os candidatos se esmerassem nas promessas para que os médicos tivessem condições de realmente curar? Que educação e saúde são prioridades, nós ouvimos desde a hora que saímos para o mundo. Que temos visto resultados práticos e eficazes é outra conversa bem diferente.
Há o lado bonito da festa. Candidatos de todos os tipos, cada um se achando o tal. É assim mesmo. Quem sabe se, de fato, ele não o é? Ao votar em um deles, a gente pode estar revelando para a comunidade alguém que vai fazer diferença. Isto é o que todos queremos. Esta é a grande vantagem do processo eletivo: revelar valores. Como tudo que é bom e faz diferença para melhor é coisa rara, a gente tem que ter paciência. O processo das eleiões nos dá o direito de continuar garimpando.