Linchamento é coisa antiga. Os judeus já apedrejavam as mulheres pegadas em adultério. Na Idade Média, a coisa continuou e na convulsionada história americana foi muito usado contra os negros. Americano tem a mania de tentar resolver a coisa sumariamente, com a cara fechada, e vai cometendo injustiças difíceis de serem reparadas. Linchamento vem de Charles ou William Lynch, americanos que gostavam de aplicar essa pena sumária, geralmente enforcando o pobre coitado.
Vemos, em Paulo Afonso, uma certa tendência para vilificar, demonizar ou mesmo linchar os agentes de trânsito. Estamos certos em fazer isto? Já li alegações que eles procuram a sombra das árvores nas ruas. Mas será que o que queremos é que eles torrem sob o sol escaldante da região, no meio do asfalto fervente onde a temperatura alcança o pico? Eles são jovens. Mas não são de ferro. Sol em demasia causa câncer de pele; em nós, e neles também.
Não creio que os nossos agentes sejam preguiçosos, desengajados, descomprometidos, ou qualquer coisa do gênero. Faço questão de crer que, mesmo com os baixos salários que recebem, eles querem trabalhar. Querem produzir e fazer diferença. Há – o leitor agora é convidado a pensar – coisa pior do que não fazer nada, ser um zero à esquerda? Não, claro que não há. O corpo humano é uma caldeira produtora de energia que precisa ser liberada de preferência para gerar soluções e resultados positivos. Todo ser humano em condições normais anela reconhecimento. Provavelmente não existe o preguiçoso. Mais provavelmente existe o doente, ou simplesmente o desmotivado. Motivação é fundamental e todo gestor deve saber disto.
Não estaria havendo falha no gerenciamento do trabalho dos nossos amigos? Não estaria havendo falta de definição? Nós os estaríamos prestigiando como agentes da lei com a legítima procuração para ordenar o trânsito na nossa cidade?
Será que eles têm a necessária autoridade (dentro dos limites da lei) para cumprir a sua missão? Ou será que, como em relação aos professores, essa necessária autoridade já foi retirada há muito tempo? Nós os vemos bem fardados. Acabam de receber equipamentos de proteção individual (muitos municípios no Brasil já têm verbas suficientes para promover uma boa educação). Mas será que sem motivação –e sem consideração – são capazes de melhor orientar o nosso trânsito?
Vamos pensando. E vamos olhando para os agentes de trânsito como gostaríamos que olhassem para nós.
Francisco Nery Júnior
