O assassinato de um cabeleleiro, em Rodelas – minha cidade natal – nesses últimos dias, deveria ser o alerta para a problemática social a que vários municípios brasileiros estão predispostos.
A vítima foi o cabeleleiro Everaldo, mais conhecido como “Cabelinho” e o executor, o jovem José Carlos (Carlinhos de Nenen), um jovem da idade de meu filho, que com ele conviveu, brincou e dividiu sonhos e ilusões.
Mas a pergunta que faço é: Até que ponto o Poder Público e a sociedade deixaram de contribuir para que nossos jovens não mais invernem de vez na delinqüência?
Que Carlinhos vivia nas ruas, desamparado, criado sem pai, sem a devida estrutura familiar… isso não é novidade, nem tampouco, razão para desandar na vida! Eu e meus irmãos também fomos criados sem a presença essencial paterna, carentes de quase tudo, embora tivéssemos uma mãe exemplar, guerreira, que vale mais do que milhares de casais completos, com estrutura econômica favorável. E é bom frisar que minha mãe nos criou, deu–nos o sustento através de seu trabalho humilde e incansável de lavadeira.
Provavelmente, tenhamos recebido mais amparo do que o jovem Carlinhos para que nos transformássemos em seres humanos do “bem” ou dito “normais”, preocupados com a propagação da cultura da paz e da consciência, do bom senso, ao contrário do nosso Carlinhos, que só recebeu pedradas, críticas, falsa compaixão, ao invés de calor humano e de compreensão.
Mesmo estando trabalhando em Juazeiro há quase sete meses, tenho uma preocupação constante com o tratamento que é dado aos nossos jovens, principalmente, com o advento do constante crescimento do uso das drogas, que jamais imaginei, numa cidadezinha de menos de 10 mil habitantes, tão alarmante! Consigo imaginar a expansão das drogas em cidades do porte de Paulo Afonso, Juazeiro, Petrolina, Salgueiro, Floresta, Belém de São Francisco, Delmiro Gouveia, entre outras, mas jamais em minha pequena Rodelas, que é menor, pelo menos, umas dez vezes do que Salgueiro, por exemplo.
Que a venda ilícita de armas de fogo e o avanço das drogas – principalmente, o crack e a maconha, devido ao custo – estão ampliando-se no Brasil inteiro não é mais surpresa para ninguém, pois estudos da ONU – Organização das Nações Unidas confirmam isso e é um grande desafio para os Governos Federal e Estaduais.
Assim sendo, o nosso Poder Público precisará lançar mão de medidas, não apenas paliativas, para que não produzamos mais “Carlinhos” com a nossa falta de sensibilidade e de visão, principalmente, promovendo medidas sócio-educativas, a práticas de esportes e de lazer que possam preparar os indivíduos para a cidadania e para que aprendam a respeitar seus semelhantes como irmãos, resgatando das “trevas” seu próprio futuro, submerso nas entranhas do desgoverno, da corrupção e do despreparado das instituições em promover políticas públicas que resgatem a dignidade de seres humanos já tão maltratados pela desigualdade e descrentes da vida.
Juazeiro/BA, Março de 2013.
Prof. Generino Gabriel
(Professor Licenciado em Letras e Pós-Graduado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, cursando, atualmente, Gestão Pública).