O leitor viu a diferença que faz Neymar no time? Fez o primeiro gol contra o México, na Copa das Confederações e foi o artífice do segundo. O placar teria chegado a uns quatro gols se algumas finalizações tivessem sido feitas por Neymar. Cabe uma pergunta: por que os administradores públicos do Brasil não colocam nos seus times os Neymares da vida? Eles certamente fariam diferença como diferença faz o nosso Neymar. Dizem que não colocam porque precisam compor. Leia-se em composição uma boquinha pra cada um; além do chefe, é claro, que lá foi colocado por quem não sabe escolher; não sabe votar no sistema democrático. Entre causa e efeito, efeito e causa, estamos chegando a uma nova baderna.
A causa para tanta desordem, que cresce com bom fermento, teria sido o aumento das passagens de ônibus em São Paulo. Outra explicação teriam sido os gastos exagerados das Copas do Futebol. Se andarmos devagar e verificarmos que vinte centavos de real de aumento de passagem de ônibus não causariam reação nenhuma e se considerarmos que estamos no país do futebol, chegaremos facilmente à conclusão que as explicações dadas estão furadas. O povo simplesmente começa a perder a paciência com tanto blablablá. Com impostos escorchantes, falta de investimentos de base e aumento da violência, povo nenhum retém a paciência. Os esquemas simplesmente parecem estar saturados e o povo parece cansado de esperar.
Há cerca de dez anos houve mudança. A mudança foi muito bem vinda porque pressupunha mudança para melhor. Como a mudança começa a se caracterizar como de rabo de cavalo, a paciência do povo começa a se esvair. Superávit primário de um por cento significa mais aumento da dívida interna cujos juros terão que ser pagos com dinheiro emprestado que gera mais juros. E os juros da dívida interna, cada vez mais, anulam o esforço do povo brasileiro. Ninguém aguenta!
Em 1964, a situação era de baderna, descontrole, caos e confusão. A classe média apelou para as Forças Armadas e deu no que deu. As demonstrações de rua que vemos neste momento estão sendo capitaneadas por gente da classe média que é quem fatalmente paga a conta do descontrole. Os governos do Rio e de São Paulo recuaram e anunciaram a anulação da majoração das tarifas hoje, 19 de junho, pela manhã. O que vejo na mídia é a persistência e o aumento das manifestações. Estão crescendo e ninguém pode prever onde vão parar. Mais uma vez ficam, desta forma, anuladas as explicações oficiais para os protestos.
Ainda não temos um cadáver. Se isto acontecer, bem, as coisas tenderão a piorar e alguém será solicitado a intervir – em 1964 as Forças Armadas foram solicitadas a intervir. Intervieram para restaurar a ordem (o Governo João Goulart não controlava nem a si mesmo), pegaram gosto pelo poder e ficaram lá por cima por vinte anos.
A falta de dinheiro para investimento em um país que tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo – vamos nos lembrar que falta de pão em uma casa só causa confusão – causa a exata desestabilização que começamos a assistir. Os europeus se esfacelaram durante séculos quando não tinham pão. Comiam batatas e sobreviviam. As grandes guerras sempre foram por recursos, privilégios ou riquezas. O maior enigma é de onde o atual governo vai arrancar dinheiro para resolver os nossos problemas sem causar inflação. A maquininha que fabrica dinheiro só produz dinheiro podre. Este fede, causa inflação e irrita o povo.
A única saída, que não um golpe ou uma revolução, seria um governo de salvação nacional formado por forças de consenso oriundas do povo que se sentassem à mesa e explicassem a esse mesmo povo a situação de pendanga a que os nossos últimos governantes levaram o país. Ninguém sobrevive dedicando toda a renda do suor do rosto ao pagamento de juros. Sem considerarmos algumas escaramuças em alguns dos seus países, a Europa atravessa sem grandes convulsões a atual crise econômica. A diferença é que a maioria dos países europeus já tem uma estrutura estabelecida que nós não temos.
Gostaria de estar levando boas novas aos meus cansados leitores. Isto fica para quando formos, todos nós, capazes de escolher administradores – eles existem! – do quilate de um Neymar.
Francisco Nery Júnior