Os pouco mais de 8 mil habitantes de Olho D’água do Casado vivem o pior momento político da história do município. O prefeito eleito com 50,99% dos votos, José Gualberto Pereira (PSDB) e a vice Rosa Airine Souza de Alencar, a Rosinha (DEM), estão com os mandatos cassados pela Justiça Eleitoral, sob a acusação de captação ilícita de sufrágio e abuso de poder político e econômico. Gualberto e Rosinha recorreram da decisão, mas não têm previsão nenhuma de retornar às funções.
Enquanto isso, o então presidente da Câmara de Vereadores, José Raimundo Gomes (PDT), à frente da prefeitura há 26 dias, pensa em entregar o cargo, alegando que enfrenta dificuldade financeira e não consegue dar continuidade à administração iniciada por Gualberto, de quem era aliado político.
Como se não bastasse a situação, Zé Raimundo, como é conhecido o prefeito interino, tem seu nome envolvido em uma denúncia de retirada indevida da conta do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Conforme a delação, o gestor, com a ajuda do secretário de educação, José Dorgival Leite Santos, teriam realizado a transferência de mais de R$ 60 mil do Fundeb para a Câmara de Vereadores, o que seria o repasse do duodécimo daquele legislativo.
O Minuto Sertão apurou que ao ser questionado por uma funcionária da prefeitura sobre a prática criminosa que pode culminar em um processo por improbidade administrativa, o prefeito interino teria alegado que o município teve o Fundo de Partição dos Municípios (FPM) retido pela receita federal e que os salários dos vereadores não poderiam atrasar, por isso havia retirado dinheiro do recurso exclusivo da educação para repassar ao legislativo.
O fato é que servidores da educação reclamam mais de cinco meses de salários e benefícios atrasados. Professores concursados e contratados afirmam que o secretário de educação do município informa que os atrasos acontecem devido à folha de pagamento da secretaria está onerada, situação que para ele é causada pela remuneração exorbitante de funcionários.
Procurada por nossa reportagem, a direção do núcleo regional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), com sede em Delmiro Gouveia, alegou que reconhece a situação dos profissionais da categoria naquela cidade e que também tomou conhecimento da denúncia sobre a movimentação indevida de dinheiro do Fundeb, inclusive procurou o Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Recurso para marcar uma reunião onde será discutido o caso.
Um professor, que não quis se identificar, temendo retaliação, contou que delatou o caso junto ao Ministério da Educação (MEC) e foi informado que a denúncia apresentada foi remetida ao setor responsável para que sejam tomadas as medidas adotadas.
Procuramos o prefeito interino, Zé Raimundo, que não quis detalhar a situação administrativa em que se encontra o município, mas admitiu que está com problemas para viabilizar a administração e que pensa em procurar o judiciário em busca de uma medida que pode até ser uma intervenção.
O gestor afirma que a folha de pagamento do funcionalismo municipal está onerada e esse é o maior problema do governo que assumiu. “Para vocês terem uma ideia, a prefeitura está com 400 contratados, quantidade muito acima do que a municipalidade suporta financeiramente e que a lei permite.” Explicou, Zé Raimundo.
Questionamos o que estaria sendo feito com o dinheiro repassado pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) ao município e o prefeito respondeu que o último repasse foi de R$ 196 mil, valor que para ele não é suficiente nem para começar a resolver os problemas, ainda mais com os atrasos de salários e as inúmeras dívidas da prefeitura com fornecedores e prestadores de serviços.
Sobre as denúncias aqui apresentadas, Zé Raimundo negou que tivesse desviado recurso do Fundeb para realizar o pagamento do duodécimo da Câmara de Vereadores, mas disse que vai se reunir com o secretário municipal de educação para solicitar explicações a respeito do caso.
Tentamos contato com o secretário de educação citado nessa reportagem, mas seu telefone não foi atendido.
Manifestação
Sem ter perspectiva de mudança para tão breve, centenas de moradores daquele pequeno município do Sertão do Estado, na manhã desta quarta-feira (7), resolveram sair pelas ruas da cidade em uma manifestação pacífica para protestar contra a situação política em que se encontra o município.
Os manifestantes, todos vestidos de preto, também cobraram que o judiciário agilize o novo pleito eleitoral e que puna os políticos corruptos da região.
