Escrevo esta carta para a gigante terra da garôa. Aquela que sempre nos acolheu. A cidade que vivi por tempos. Crescí, ajudei a crescer com nossa força e nossa garra. Andei sabendo por bocas miúdas, que São Paulo está sem água. E como sofredor dessa sina fiquei meio assim, sei lá, triste… É chato ficar sem água não é ‘São Paulo’? É, sei bem! Dizem que ainda tem 11 porcento de água numa represa, aqui nós chamamos barragem. Não sei quanto dá em litros, esse tal de ‘porcento’, mas aqui por meses não tem nem 1 desse danado. Por aqui, muita gente nem raciona, como diz vocês. Porque não tem. A multa que levam? É ver o gado morrer, andar quilômetros pra pegar água barrenta, pagar caminhão pipa com água contaminada. Essa situação é ruim em São Paulo? Sabemos bem! E não é por meses. Passamos anos desse jeitinho que vocês tão! E desejo do fundo desse coração guerreiro, que chova logo por aí. E no acaso de demorar e as coisas se apertarem. Corre pra cá! Queremos retribuir a gentileza, a acolhida! Desçam pra cá, aqui cabem todos! Sabemos como lidar com isso, ‘Dona Sêca’ aqui, já é de casa! Somos fortes, acholhedores, podem dormir em nossas casas, comer nas nossas mesas… Aqui ninguém vai espancar vocês não, nem vão chama-los de ‘Paulistas cabeça chata’, ninguém vai te tratar diferente por você ser do ‘Sul’ e nem vão mandar matar um de vocês por dia… venham tranquilos. Vocês vão conhecer um brasil, que respira ar puro, que dança forró com a tristeza. Rodízios de carros? Tem não! Nossos carros são de bois, barulhentos também. Mas não poluem… Se acanhem não! Cheguem, Aqui tudo é de todos! Vá no pernambuco, dance frevo, maracatu… Suba para o maranhão, lá tem a Paz do reggae! Na Paraíba tem poesia, repente, viola… Descanse nas praias lindas de alagoas! Se quiser também, vá aculá na Bahia! Reze pra o bonfim, peça chuva a São Pedro. Dizem que lá estão todos os santos! Curta o Sol do ceará… Sergipe é pequeneninho mas é bom arretado… Vez ou outra, vai ver umas tiras dágua, uns espelhos dágua bonitos! É o nosso ‘Velho Chico’, nosso Mestre, nosso salvador, nossa salvação! Até esse desceu lá das minas gerais pra cá, e por aqui ficou. Fiquem por aqui! Daqui a pouco a chuva cai por lá, tenham esperança. aqui ela também mora. E aí vocês se animam, e voltam! E quando passarem subindo, precisa fechar a porteira não! Aqui as portas não tem trancas, entra quem quer, sai quem quer… O Brasil começou nessas bandas de cá, e como em toda casa, os filhos são sempre bem vindos. Somos todos iguais, o que nos diferencia é a forma de falar e os costumes, mas a essência é a mesma. Aqui ou lá todo sangue é vermelho, e toda alma é humana.