Eu era bem pequeno, talvez ainda me arrastasse pelos pés, quando pude testemunhar a alegria do meu pai, em Salvador, com a chegada da energia de Paulo Afonso. Eram os tempos bons da esperança e do pioneirismo, poucas notícias de corrupção e de desvios de recursos. Tínhamos agora energia limpa, segura e confiável de Paulo Afonso. Só mais tarde a marca CHESF começou a se estabelecer e ser respeitada. A CHESF é uma marca de honra para o Nordeste e para o Brasil. No nosso caso, A CHESF fez Paulo Afonso.
Era um horror! A eletricidade produzida pelas usinas não confiáveis, queimadoras de combustível fóssil (lembro-me bem da Usina do Dique do Tororó, milagrosamente ainda de pé, a nos lembrar, como um museu, a precariedade do fornecimento na época), caía a todo instante. Inesperadamente, caía o fornecimento. Tínhamos que ter sempre um punhado de candeeiros à disposição. O cheiro de querosene ficou indelevelmente presente nas minhas narinas; até hoje. Posso ouvir claramente, 60 anos depois, o grito da meninada da vizinhança a cada queda de fornecimento. A volta era mais festejada ainda. A Usina I acabou com tudo isso. Passamos orgulhosamente a receber energia limpa e confiável produzida em Paulo Afonso, em pleno Nordeste do Brasil.
Ponto para os pioneiros, de lá e de cá. Os que lá decidiram e planejaram e os que aqui construíram. Sem os pioneiros, nada teria sido feito. Ponto para os pioneiros de segunda hora que, como eu, garantiram o follow-up ou a continuidade do processo de consolidação. Vim para Paulo Afonso em julho de 1974. Ainda éramos pioneiros. Poucos se sujeitaram ficar em um acampamento limitado que, de certa forma, abafava a nossa liberdade. A fama da região era terrível. Carecia se proteger. Ficamos e nos reservamos a alegria de nos considerar pioneiros junto com o punhado de primeira hora da Usina I.
Lá está ela. Hoje, conforme anunciado, receberá muitas homenagens. Está lá, monumento vivo e forte do esforço e do valor de toda uma geração. Esperamos a sua preservação. Toleramos a sua renovação. Mas anelamos a sua conservação para testemunho de tudo que acabamos de descrever. Que nenhum engenheiro de obras feitas, nenhum prolixo ativo possa se sobrepor a todo o sentimento de honra e de gratidão que agora sentimos.
Por Francisco Nery Júnior
O vídeo mostra o trabalho dos pioneiros na construção da primeira usina hidrelétrica da Chesf – ‘Paulo Afonso I’, a construção do acampamento e o início dos trabalhos. A gravação de algumas cenas e a narração foram feitas pelo engenheiro da Chesf, Bret Cerqueira de Lima
