Caro leitor, convido a uma reflexão sobre a representação do negro na TV brasileira, ao longo de seis décadas da sua criação. A Lei da Igualdade Racial acrescenta itens à Lei 7.716/89 entre eles: que a produção veiculada pelos meios de comunicação valorize a herança cultural e a participação da população negra na história do país. À primeira vista parece estranho que o país precisasse de uma lei que garantisse o óbvio, mas para os pais das jovens que hoje imitam o penteado da Taís Araújo, nem sempre foi assim.
No censo de 1988, utilizado no ensaio da “Sociologia do Negro Brasileiro” chega a ser surpreendente o tanto de adjetivos utilizados pela população para fugirem e, aqui vamos dizer simbolicamente, daquilo que eles entendiam como negro. Citaremos apenas os mais pitorescos, numa escala de mais de 100 tipos. Tais como: “queimado de sol”, “trigueira”, “burro quando foge”, “branca melada”, “acastanhada”, “sapecada”, “rosa queimada”, “morenão”, “café-com-leite”, “puxa para branca” entre outros.
Não obstante, a novela de maior sucesso comercial da história da TV, “Escrava Isaura/1977”, contrariando as leis da genética, tinha uma escrava branca como a neve, a atriz Lucélia Santos. Com efeito, para o negro estavam reservados os papeis de jagunços, alcoólatras, capitão do mato, ladrões, malandros etc., de tal sorte que era praticamente impossível ver televisão e ter boa autoestima.
As coisas começaram a mudar no começo dos anos 2000 e hoje, apesar de ainda resistente, já se quebraram tabus na TV aberta, como por exemplo, casais inter-raciais no horário nobre, a primeira protagonista negra, depois de Taís Araújo, outras atrizes também conseguiram o protagonismo, e Lázaro Ramos definitivamente está entre os maiores dessa geração quebrando barreiras com o reconhecimento dos seus pares, não apenas na TV, diga-se, mais principalmente no cinema. É o começo de um longo resgate histórico, de uma dívida, pelo que se vê, ainda pagável.
Ivone Lima (Jornalista e Repórter do site OzildoAlves)
