Na semana em que Bruna Linzmeyer foi fotografada com sua namorada aos beijos numa praia, em que Mari Steinbrecher, ex-jogadora de vôlei da seleção, pediu que abrissem a mente após um vídeo dela beijando uma mulher durante um festival viralizar e de uma declaração de amor de Sandra de Sá para sua mulher nas redes sociais, vale lembrar que uma artista deu a cara a tapa para que cenas assim pudessem acontecer sem que o mundo desabasse.
Angela Ro Ro, 67 anos, foi alvo de todo o preconceito, machismo e chegou a apanhar da polícia por sua orientação sexual. Mais que isso. Por tratar do assunto com naturalidade, algo já sabido e respeitado em casa. Angela gostava de mulheres. E isso ofendia muita gente. “Vejo essa nova geração com certa bravura. Fico de certa forma vaidosa. Ainda que tenha marcas, um olho e um tímpano com problemas por ter levado cacete de polícia, levantei entradas e bandeiras”, avalia a cantora: “Acho maravilhosa essa geração de 20 anos, sem medo. Sofro preconceito até hoje”.
A artista nunca escondeu o que pensa, sempre teve a verborragia como aliada e vê com certa parcimônia o auê em torno do empoderamento feminino. “É o mesmo que dar liberdade a um escravo. Os escravos nasceram livres. Assim como as mulheres. Então me parece uma alforria”, explica: “Só que a mulher sempre teve o poder. É uma guerreira pacífica. Ela cuidava de sua caverna, dos filhos, dos velhos. Faz isso hoje em dia também. Mas sabiamente pegou o pior do machismo e transformou. Mas não se iludam, são os machos que estão dando esse empoderamento. Eles escolhem seus pares, as mulheres que podem transitar no universo deles”.
Angela não se conforma de ainda hoje uma mulher ganhar menos que um homem. “Muitas vezes, ela tem o mesmo cargo e é até mais competente. Mas ganha a metade”, esbraveja.
Ela conta que se descobrir homossexual não foi um drama. “Mamãe, sabiamente, percebeu que eu nutria afetividade por meninas. Mais que atração sexual, eu me sentia atraída pelo feminino, pela pessoa. E isso em casa foi muito bem tratado”, conta ela, que chegou a ter a casa invadida por policiais na época da ditadura: “Eles chegavam, quebravam as coisas, batiam. Depois inventavam uma ocorrência qualquer”.
Solteira, Angela diz que prefere estar casada com ela mesma. “Se sinto falta de alguém? Claro, mas não peguei o telefone de alguém”, ironiza. No meio do ano lança seu próximo disco, “Selvagem”, em parceria com Ricardo Mac Cord. Um CD completamente autoral e gravado com a ajuda das novas tecnologias.
Acho que Ângela passou sua vida renascendo a cada momento e como interprete e poeta nunca perdeu o bonde, admiro-a e me identifico com sua postura diante da hipocrita e civilizada sociedade. Vai garota sua vitória ta aí. Vale sempre.