Introdução e tradução do francês por Francisco Nery Júnior
Os desmentidos surgem quando há a probabilidade do fato. Foi assim em 1964. A história costuma se repetir. Quando os pronunciamentos se sucedem a favor da democracia, o sinal vermelho se acende nas nossas cabeças. Corroborando o nosso arrazoado, Wladimir Putin negou a invasão da Ucrânia até minutos antes de os tanques invadirem o país.
Quando um jornal importante da França cita os militares brasileiros como árbitros da batalha política, a dúvida se estabelece. O verdadeiro árbitro da batalha política deveria [sempre] ser o povo.
Vimos de longe, experimentamos a quebra da normalidade democrática e podemos perceber – pelo menos desconfiar – o azedamento do caldo político.
Como seria a visão de fora para dentro? O resumo pode ser encontrado em matéria publicada no Le Monde de Paris em 24.08.2022 que traduzimos para os nossos leitores. Segue a tradução:
Os militares brasileiros, árbitros da batalha política
Em Brasília, a pergunta está em todas as bocas: que vão fazer os militares? Enquanto o país vive sob a ameaça de um golpe de força por Jair Bolsonaro e seus partidários, as forças armadas posam de árbitro. Para o líder da extrema direita, rejeitado por uma maioria de opinião, abandonado pelos principais meios de comunicação, as elites econômicas e as grandes potências, o exército aparece como uma última corda de rapel.
Por quatro anos, o antigo capitão não tem poupado esforços para seduzir o exército. Os militares detêm as principais pastas do governo e mais de 6.000 soldados ocupam um cargo no seu governo. Bolsonaro tem sabido se mostrar generoso concedendo, em 2020, segundo revelações recentes do cotidiano Estadão, um bônus que chega a um milhão de reais (192.000 euros) a alguns dos seus ministros oriundos do exército. Para a próxima eleição, o general Walter Braga Netto, ex-ministro da defesa, foi designado como vice-presidente na nova chapa presidencial. Simbolicamente, Jair Bolsonaro decidiu que o exército desfilará para o povo em 7 de setembro na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, por ocasião do bicentenário da independência.