Nem Freud explica as atitudes da TV Globo, ainda no calor da agitação que tomou conta das redes sociais, pela hashtag ‘Mexeu com uma, mexeu com todas’, e seus memoráveis sete minutos no Jornal Nacional, com reportagem falando das atitudes ultrajantes do ator veterano José Mayer, que assediou de forma asquerosa a figurinista Susllem, caso denunciado em detalhes pelo jornal Folha de São Paulo, parece que para a emissora, se pode mexer à vontade com as participantes do BBB.
Não fosse a iniciativa da delegada, Márcia Noeli – diretora da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá – responsável pela área em que ficam os estúdios da Globo, ter entrado na casa, pedido exame de corpo delito, e assim abrir inquérito para investigar o caso, consequentemente, forçando a emissora a se posicionar – como se viu o Marcos foi expulso – a Emilly seguiria o roteiro da mulher ‘normal’ do dramaturgo Nelson Rodrigues, que cunhou: “Eu não digo que toda mulher gosta de apanhar. Só as normais. As neuróticas reagem.”
É impressionante como a Globo manipula, distorce e forja situações e passa impoluta, não se tem notícia de que a justiça tenha tentado tirar o BBB do ar, mesmo quando já se investigou a tentativa de um estupro na casa, há alguns anos. Segundo a irmã da vítima, Mayla, antes do cirurgião plástico Marcos, a moça já teria tido um relacionamento abusivo.
Fica evidente que em nenhum momento a Rede Globo incentivou Emilly, a denunciar o parceiro, pelo contrário, agiu como se nada houvesse. E para quem se pergunta por que a Emilly não o fez, por iniciativa própria?, basta acompanhar um plantão na DEAM mais próxima, geralmente as vítimas ficam fragilizadas, não reagem imediatamente, numa situação normal, imagine com o que acontece no BBB, e também se for considerado o histórico da moça apresentado pela irmã.
O que as delegadas costumam chamar de ‘dependência afetiva’, ou seja, mesmo ferida, machucada e até espancada, o autor chora, diz que está arrependido e pede para voltar, e ela perdoa. Ela volta até a próxima agressão. Às vezes volta até a morte. Pois como é fácil comprovar, sem tratamento, a violência só aumenta. Uma mulher não é assassinada no país por minuto à toa.
Em relação à sociedade, verifica-se também outra dependência: até quando a TV Globo vai manipular, nos agredir, nos insultar, e nós vamos sempre perdoar?, nós vamos sempre sintonizar? Parece que a sociedade precisa ser mais ‘neurótica’, para ficar no pensamento de Nelson e reagir.
