
O cantor baiano João Gilberto, ícone da bossa nova, morreu neste sábado (6) aos 88 anos. O artista morreu na sua casa, no Rio de Janeiro. A causa da morte não é conhecida. Ele deixa três filhos, João Marcelo, Bebel e Luisa.
O filho do cantor confirmou no Facebook a morte do artista. “Meu pai morreu. Sua luta foi nobre, ele tentou manter a dignidade à luz da perda da soberania”, escreveu. “Eu agradeço minha família (meu lado da família) por estar lá para ele,e Gustavo por ser um amigo verdadeiro para nós, e cuidar dele como um de nós. Por fim, gostaria de agradecer Maria do Céu por estar ao lado dele até o fim. Ela foi uma verdadeira amiga e companheira dele”.
Recentemente, uma foto de João Gilberto foi publicada no Facebook de Sofia Gilberto, 3 anos, filha de João Marcelo. Na imagem, João – visivelmente mais magro – aparece ao lado da namorada moçambicana Maria do Céu Harris. Na legenda, a seguinte frase: “Vovô e Vovó Maria do Céu hoje pela manhã. Sempre lindos. Amo vocês”.

João Gilberto tinha problemas de saúde e estava no meio de uma disputa entre os filhos por sua tutela. Em 2017, ele foi interditado judicialmente pela filha, Bebel Gilberto, por conta dessa disputa.
O cantor se apresentou em Salvador pela última vez em 2008, no Teatro Castro Alves (TCA). Os ingressos se esgotaram em apenas 40 minutos. Foi o primeiro show dele na capital baiana depois de 10 anos. Ele se atrasou cerca de 1h10 antes de entrar no palco. Ele começou com “Você Já Foi à Bahia”, sucesso de Dorival Caymmi. Leia a crítica de Hagamenon Brito no Correio à época.
Vida pela música
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira nasceu em 10 de junho de 1931 em Juazeiro. Filho do comerciante Joviniano Domingos de Oliveira e de Martinha do Prado Pereira de Oliveira, ele viveu na cidade baiana até 1942, quando foi estudar em Aracaju. Voltou quatro anos depois. Desde pequeno, participava da banda da escola e tinha contato com música em casa. O pai tocava cavaquinho e saxofone. Na infância, ouviu muito Orlando Silva, Caymmi e Carmen Miranda.
Ganhou do pai o primeiro violão, aos 14 anos. Na cidade natal, formou seu primeiro conjunto vocal, batizado de Enamorados do Ritmo. Em 1947, se mudou para Salvador, onde viveu por três anos e decidiu deixar os estudos para se dedicar totalmente à música.
Em 1950, foi para o Rio de Janeiro ao receber um convite para participar do grupo vocal Garotos da Lua. O conjunto gravou dois discos de 78 rpm e ganhou destaques nas rádios locais. João deixou o grupo por conta de incompatibilidades e problemas com atrasos. Gravou em 1952 um disco solo para a gravadora Copacabana – sem violão.
Sua primeira composição foi gravada em 1953 na voz de Marisa Gata Mansa, que era então sua namorada. “Você esteve com meu bem” era parceria com Russo do Pandeiro e na gravação João tocou violão, sem sua famosa batida.
A batida surgiria em 1957, no Rio de Janeiro, quando João mostrou sua música “Bim Bom” em uma festa, fascinando Roberto Menescal, que serviu de “embaixador” do novo estilo pela Zona Sul do Rio. João ficou mais conhecido em terras cariocas e gravou em 1958 um disco de 78 rpm com “Chega de Saudade” e “Bim Bom”, que mudaria tudo. Em março do ano seguinte, lança o LP de “Chega de Saudade”.
João concluiu em 1961 a trilogia considerada fundamental para a Bossa Nova: “Chega de saudade” (1959), “O amor, o sorriso e a flor” (1960) e “João Gilberto”.

O trabalho dele também foi objeto de briga na justiça. A defesa do cantor pedia uma revisão no valor de uma indenização da gravadora EMI Records, hoje controlada pela Universal Music. Em 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proibiu a empresa de vender os discos do artista sem seu consentimento. A Universal não comenta o caso.