27 de julho de 2025

Para escrever – e ler – uma canção de Natal (Francisco Nery Júnior)

Por

Redação, sitepa4

Por Francisco Nery Júnior

O colega imortal Edson Mendes, membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, me enviou o texto que repassarei para o leitor amante da verdade e das letras. Examine o leitor o texto com os olhos recomendados no próprio texto. Por exemplo, tomo a liberdade de começar por você, todos temos olhos para enxergar. Esforçando-se para ser o seu próprio oftalmologista, você pode enxergar, ciente que enxergar vai bem além de ver. Você começará a concordar com o autor que existe muito mais coisa na pedra que a própria pedra. Vendo e enxergando, você estará apto para ir além, o que quer dizer que você estará apto para criar, o que vai além de enxergar. Você será parte do processo, você subirá, ampliará a sua visão e produzirá.

Pegar o lápis e escrever. É preciso confiança e decisão para pegar o lápis. Isso só você poderá fazer. Caso contrário, você seria apenas um repetidor de verdades batidas, talvez fora de moda ou até desmoralizadas pelo tempo e pela experiência da humanidade. O olhar para a pedra, ou o que se apresenta aos seus olhos já contempladores, há que ser um olhar pungente. Com força, desejo e verve; decisão e partida. Olhar de sangue quente que significa vida em abundância. Nada superficial e obrigatório. Nada imposto de fora para você. Lembre-se que, agora, após a decisão profunda, não perfunctória, você é capaz de enxergar – para agir e fazer diferença. Este o dom que nos foi ofertado. É pegar ou largar, para melhor usufruir do dom gratuito e inerente dentro de você. Perceba o significante, a cadência e a capacidade de mover você: olhar pungente! Repita para você mesmo o termo em voz alta e verá que o que acabamos de afirmar é verdade. Aliás, nada perfunctório agrada ao sábio, quiçá ao justo. Não estamos aqui para algo perfunctório. O sentido das coisas está na profundidade, como o ouro apenas aflora, sai dos grotões da terra, em oportunidades raras quando se cansa de não ser buscado.

O resto, leitor, prosseguindo na leitura, a leitura não perfunctória ou superficial, deixo o exercício em reticências para você continuar…

A seguir, o texto recebido:

Como escrever uma canção de Natal?

Edson Mendes

Qualquer pessoa pode enxergar, numa pedra, mais do que a pedra. Uma pedra
é um lápis. Assim como a folha de papel pode ser um ipê amarelo. Tudo que você
precisa para escrever uma canção é de um lápis, uma folha de papel e um olhar pungente,
não perfunctório. Para ver a utilidade do inútil – a lágrima, a sombra, a fímbria…
E a inutilidade do útil – a sobra, o saldo, o sobejo. A arte de escrever, você sabe, é,
também, a arte da solidão – a companhia dos outros é uma boa companhia, claro,
sem a qual não se vive. Mas você nunca estará sozinho. Feche os olhos e veja: o mundo está
dentro de você. A diferença entre a visão e o olhar é semelhante à distância entre o poema e a poesia.
Olhar a pedra, e dela extrair o espelho, a árvore, e dela a semente, a semente, e dela o fruto
– exige mais a fruição do que o usufruto… Se você pode enxergar, também pode escrever.
Mas só enxergaremos o que você está vendo se, no papel, a poesia estiver clara, límpida, concisa.
Conter-se, para que no papel se contenha o essencial, é o verdadeiro oficio. É assim, e sobre isso,
que escrevem os poetas. Eles não fazem versos. Eles enxergam a luz sob as luzes, distinguem
o luzir dos pirilampos na escuridão e nos guiam para a beleza efêmera, mas eterna, da poesia
que está em nossos corações. Fazem isso olhando para o sol, e cegam. Mas enxergam, nas erupções,
as chamas que nos iluminam, aquecem, tecem, reparam, restauram, regeneram. Onde você estiver,
hoje, pense nisso. Divida conosco – nós, os outros – sua solidão, dê-nos um pouco de sua atenção,
de seu tempo, de sua ternura. Lembre-se de Nietzsche: todos os que desfrutam acreditam
que na árvore o que importa é o fruto, quando na verdade o que importa é a semente.

O que disse ao autor Edson Mendes após a leitura do texto enviado:

Li a primeira sentença e pensei em parar. Disse a mim mesmo: Basta. Já é o suficiente; já diz mundos. Fui lendo e, após a última sentença, disparei [também para mim mesmo]: foi o suficiente; disse mundos.

 

 

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