22 de agosto de 2025

Visita Pastoral chega à Velha Canudos; se cruzam amiúde: fé, história e literatura

Por

Ivone Lima- PASCOM

O bispo dom Guido Zendron realiza até o próximo dia 22 de março, a 13º etapa da Visita Pastoral, iniciada em meados de 2014, no município de Macururé-BA, na paróquia de Senhor do Bonfim, Forania V.

 

Velha Canudos, estátua de Antônio Conselheiro, ao fundo capela de São Pedro.

 

Depois de muito chão percorrido, eis que chegamos ao município de Canudos-BA, lembrando que a diocese de Paulo Afonso tem a dimensão do Estado de Sergipe, e se divide em 23 paróquias.

 

Chegada para celebração na escola do Poço da Pedra, fazenda Umbuzeirão, área rural de Canudos-BA.

 

No dia 8 de março, depois de visitar algumas comunidades rurais da Paróquia de Santo Antônio, sempre na companhia de Pe. Alberto, dom Guido celebrou na fazenda Umbuzeirão, na Queimada do Jerônimo – uma das comunidades que não possui energia elétrica,  até então, os fiéis só tinham visto um bispo pela televisão, graças a energia solar.

 

Celebração na capela de São Pedro, banda de pífano e muita animação com Pe. Alberto.

 

É importante dizer que, mesmo nestas comunidades mais longínquas, as famílias não passam sede, a prefeitura e o Exército chegam com água potável, e o sustento vem da caprinocultura. Ao contrário de outras regiões, em Canudos, se pode contar as reis que encontramos pelo caminho. O bode sim, reina absoluto.

 

Pe. Alberto, à caráter.

 

À tardinha, enfim, a Velha Canudos. O cenário de ‘Os Sertões’ uma das obras mais importantes da literatura Brasileira, do correspondente de guerra do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, Euclides da Cunha. Nela se verifica o pré-modernismo, desenvolvido nas décadas seguintes e celebrado definitivamente na Semana de Arte Moderna de 1922.

 

Museu da guerra de Canudos com os utensílios e as armas usadas no Belo Monte.

 

Para a nossa reportagem, nos valemos de Pe. Alberto, que além de pastor desse povo sertanejo e forte, como cunhou Euclides, é também um estudioso da Guerra de Canudos, e nos deu o seguinte panorama:

 

As tropas federais sofreram três grandes derrotas, até que o Estado promoveu uma das maiores carnificinas da história brasileira.

 

“Quando Pe. Alexandre escreve que ‘Só Deus é grande’, ele parte do pressuposto que a experiência de Canudos, foi uma experiência de fé. Foi essa a motivação. Ainda dentro do contexto que o mundo vivia: do iluminismo e da revolução francesa, aqui no Brasil o início da República, e suas contradições que geraram tanta miséria pelas altas cobranças de impostos, e também a grande seca, então Conselheiro quando põe o pé na estrada com sua gente – cerca de 700 pessoas -, tem isto na cabeça e no coração. Por estudar estas questões, e sofrer influência de Pe. Ibiapina e Pe. Cícero – grandes padres diocesanos do Nordeste, Conselheiro acaba trazendo isto para si, dentro de um cenário que favorece um messianismo popular, então sua figura concentrou o poder político, econômico e religioso″, relata o pároco. Daqui se pode dizer que o resto é história da guerra.

 

No dia 5 de outubro de 1897 terminava a Guerra de Canudos ou Campanha de Canudos.

 

Porém, um dia antes, no distrito de Bendengó, Dom Guido encontra dona Francisca, e ao contar da sua vida, a velhinha, de 96 anos, chora lembrando os cadáveres levados pelas águas da barragem, e as palavras que escapam de sua boca são: ‘fome, muita fome’.

 

Eis por essa estrada um caminho pastoral que deve levar em consideração todo aspecto social e cultural, mas que precisa responder às necessidades do povo agora para construir um futuro melhor.

 

Ivone Lima, correspondente.

A Igreja  

 

″Nós olhamos para o passado para ver melhor o presente, e preparar o futuro, quando eu penso nesta segunda Canudos, das águas, qual é a imagem da bíblia que eu tenho?, é justamente – guardadas as diferenças – quando o povo de Israel atravessou o Mar Vermelho e o Egito ficou para trás. Claro que a questão é diferente, porque aqui ninguém era escravo, e a primeira Canudos era a moradia de vocês e de tantas famílias, mas o fato aconteceu. Às vezes nós ficamos lembrando as coisas como se hebreus lembravam e tinham saudade da cebola do Egito, e ao invés de aceitarmos bem o presente e os desafios, ficavam pensado sempre: ‘ah, como era… ah’, assim como os discípulos de Emaús: ‘ah, como era bom e como Ele também nos traiu’. E de repente Jesus aparece, então na Igreja a memória nos ajuda a olhar os fatos que aconteceram, por piores que tenham sido. Mas onde entra o cristianismo?, que Jesus Cristo veio para nos ajudar a viver bem o presente, na perspectiva do futuro″, disse o bispo.

 

Era  8 de março, dia Internacional da Mulher, e elas cantaram assim:

 

Arraia do Belo Monte, mais de 5 mil casas e uma população estimada em 20 mil pessoas.

″/ Eu também sou a imagem do guerreiro/ sou filha de nordestino/ da terra do guerreiro/ mas o meu povo/ com coragem trabalhou/ fizemos belo progresso/ Canudos ressuscitou/ Canudos hoje/ quer viver a sua Glória/ está sentada na página marcada a sua história/″

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COMENTÁRIOS

Comentários 2

  1. Júlia Varjao says:

    Belíssimo trabalho Ivone, de fato todo patrimônio histórico e os relatos nos remete a olharmos para o passado para melhor viver o presente e nos lançarmos ao um futuro incerto.

  2. Paulo says:

    Grade Padre Alberto, ele segura o trabalho com o povo.
    Poucos sobraram como você.

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