O bispo dom Guido Zendron realiza até o próximo dia 22 de março, a 13º etapa da Visita Pastoral, iniciada em meados de 2014, no município de Macururé-BA, na paróquia de Senhor do Bonfim, Forania V.

Depois de muito chão percorrido, eis que chegamos ao município de Canudos-BA, lembrando que a diocese de Paulo Afonso tem a dimensão do Estado de Sergipe, e se divide em 23 paróquias.

No dia 8 de março, depois de visitar algumas comunidades rurais da Paróquia de Santo Antônio, sempre na companhia de Pe. Alberto, dom Guido celebrou na fazenda Umbuzeirão, na Queimada do Jerônimo – uma das comunidades que não possui energia elétrica, até então, os fiéis só tinham visto um bispo pela televisão, graças a energia solar.

É importante dizer que, mesmo nestas comunidades mais longínquas, as famílias não passam sede, a prefeitura e o Exército chegam com água potável, e o sustento vem da caprinocultura. Ao contrário de outras regiões, em Canudos, se pode contar as reis que encontramos pelo caminho. O bode sim, reina absoluto.

À tardinha, enfim, a Velha Canudos. O cenário de ‘Os Sertões’ uma das obras mais importantes da literatura Brasileira, do correspondente de guerra do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, Euclides da Cunha. Nela se verifica o pré-modernismo, desenvolvido nas décadas seguintes e celebrado definitivamente na Semana de Arte Moderna de 1922.

Para a nossa reportagem, nos valemos de Pe. Alberto, que além de pastor desse povo sertanejo e forte, como cunhou Euclides, é também um estudioso da Guerra de Canudos, e nos deu o seguinte panorama:

“Quando Pe. Alexandre escreve que ‘Só Deus é grande’, ele parte do pressuposto que a experiência de Canudos, foi uma experiência de fé. Foi essa a motivação. Ainda dentro do contexto que o mundo vivia: do iluminismo e da revolução francesa, aqui no Brasil o início da República, e suas contradições que geraram tanta miséria pelas altas cobranças de impostos, e também a grande seca, então Conselheiro quando põe o pé na estrada com sua gente – cerca de 700 pessoas -, tem isto na cabeça e no coração. Por estudar estas questões, e sofrer influência de Pe. Ibiapina e Pe. Cícero – grandes padres diocesanos do Nordeste, Conselheiro acaba trazendo isto para si, dentro de um cenário que favorece um messianismo popular, então sua figura concentrou o poder político, econômico e religioso″, relata o pároco. Daqui se pode dizer que o resto é história da guerra.

Porém, um dia antes, no distrito de Bendengó, Dom Guido encontra dona Francisca, e ao contar da sua vida, a velhinha, de 96 anos, chora lembrando os cadáveres levados pelas águas da barragem, e as palavras que escapam de sua boca são: ‘fome, muita fome’.
Eis por essa estrada um caminho pastoral que deve levar em consideração todo aspecto social e cultural, mas que precisa responder às necessidades do povo agora para construir um futuro melhor.

A Igreja
″Nós olhamos para o passado para ver melhor o presente, e preparar o futuro, quando eu penso nesta segunda Canudos, das águas, qual é a imagem da bíblia que eu tenho?, é justamente – guardadas as diferenças – quando o povo de Israel atravessou o Mar Vermelho e o Egito ficou para trás. Claro que a questão é diferente, porque aqui ninguém era escravo, e a primeira Canudos era a moradia de vocês e de tantas famílias, mas o fato aconteceu. Às vezes nós ficamos lembrando as coisas como se hebreus lembravam e tinham saudade da cebola do Egito, e ao invés de aceitarmos bem o presente e os desafios, ficavam pensado sempre: ‘ah, como era… ah’, assim como os discípulos de Emaús: ‘ah, como era bom e como Ele também nos traiu’. E de repente Jesus aparece, então na Igreja a memória nos ajuda a olhar os fatos que aconteceram, por piores que tenham sido. Mas onde entra o cristianismo?, que Jesus Cristo veio para nos ajudar a viver bem o presente, na perspectiva do futuro″, disse o bispo.
Era 8 de março, dia Internacional da Mulher, e elas cantaram assim:

″/ Eu também sou a imagem do guerreiro/ sou filha de nordestino/ da terra do guerreiro/ mas o meu povo/ com coragem trabalhou/ fizemos belo progresso/ Canudos ressuscitou/ Canudos hoje/ quer viver a sua Glória/ está sentada na página marcada a sua história/″
Belíssimo trabalho Ivone, de fato todo patrimônio histórico e os relatos nos remete a olharmos para o passado para melhor viver o presente e nos lançarmos ao um futuro incerto.
Grade Padre Alberto, ele segura o trabalho com o povo.
Poucos sobraram como você.